Tratamento voluntário
Quando o
tratamento em regime ambulatorial não surtiu efeito esperado, o próximo passo é
o regime de internação voluntária, isto é, com a aceitação do dependente.
Infelizmente é comum os pacientes dizerem que estão engajados nessa forma de
tratamento, a fala “estou fazendo terapia, estou me tratando*, é usada como
justificativa para evitar a internação.
A dependência
química é doença crônica, incurável, progressiva e potencialmente fatal, seu
tratamento depende principalmente da decisão do dependente, e decidir pelo
tratamento, é decidir pelo abandono do uso das drogas, com muita frequência,
existe aí um conflito! A motivação para o tratamento nem sempre é algo
espontâneo, nem sempre acontece pelos caminhos “do amor”, na maior parte das
vezes, ocorre pela pressão de familiares, pela falta de opção, e a fuga de
consequências de atitudes tomadas para buscar a droga e isso é totalmente
válido. Não tratar é deixar o dependente à própria sorte.
Para o
tratamento voluntário, o dependente deve manifestar seu consentimento e
aceitação. Esse tipo de tratamento é desenvolvido em lugares denominados
“Comunidades Terapêuticas”. Infelizmente é frequente que não haja estrutura
adequada. Muitos desses centros são coordenados e dirigidos por dependentes em
abstinência sem nenhum preparo profissional. Na Internet encontra-se inúmeras
propagandas, mas a busca deve começar pela indicação do profissional que trata
o dependente, ou por recomendação de pessoas que já passaram por tratamento.
Deve haver uma
estrutura profissional mínima composta por Médico Psiquiatra ou Clínico e
Psicólogos especialistas em dependência química, estrutura de enfermagem
completa, 24 horas, com enfermeiro coordenando técnicos em enfermagem todos
especialistas em saúde mental e no manejo de complicações advindas do abuso de drogas.
Deve ou pode haver monitores devidamente qualificados. A duração desse tipo de
tratamento varia de 30/45 dias, para desintoxicação, até 90/120 dias.
Como a
estrutura para atender casos de emergência é complexa deve haver planos bem
definidos para esses casos, hospitais próximos para onde se possam levar os
pacientes, bem como veículos adequados para esse transporte.
Existem
pacientes que precisam ser contidos em determinadas situações, essa área deve
ter estrutura adequada que vise à segurança do paciente, com móveis presos no
chão, grades e sem nada que possa ser usado para se ferir.
A família deve
ter acesso, não só a toda a estrutura do lugar, como também contato com outros
internos, para que haja segurança a respeito do tratamento. As cláusulas do
contrato devem ser claras e a família não pode ficar sem contato com o
dependente, mesmo que por telefone, em
nenhuma hipótese. Desrespeito às normas pelo paciente não pode ser
justificativa para essa prática.
Existem
lugares onde se pode obter informações, um deles é a FEBRACT, Federação
Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Para se filiar à FEBRACT os centros de
tratamento são fiscalizados e cumprem as normas obrigatórias.
Quando um
dependente aceita ser internado, a família deve lembrar-se que com todas as dificuldades na dinâmica
familiar, todos precisam adquirir uma nova e saudável estrutura. Embora exista
grande cansaço, não é momento de “férias”, é hora de todos se tratarem para
fazerem mudanças na volta do dependente. A orientação familiar, ou pelo menos parte
dela deve ser fornecida pelo centro de tratamento e as famílias podem ser
encaminhadas a grupos de autoajuda, como o Amor-Exigente e o Nar-anon. (assunto de próximos meses) Quando as atitudes
permanecem sem mudança, esperar resultados diferentes é insanidade.
No SUS, o
atendimento deve ser procurado nos CAPS-AD Centro de atenção psicossocial;
CRATOD - Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas; infelizmente
nem sempre existem vagas suficientes, como em todos os outros serviços públicos
de saúde em nosso país. Nesse caso, o Ministério Público pode ser procurado. Em cidades onde haja universidades de
medicina, é frequente a existência de serviços de atendimento ao dependente,
como a UNIAD - Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, da UNIFESP; o CAISM,
Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental, da Santa Casa, e o GREA - Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool
e Drogas da USP.
Com tudo isso,
é preciso lembrar que a internação é apenas uma parte do tratamento. Ninguém
conclui uma internação curado! Não existe cura para a dependência, existe
tratamento com êxito, quando desenvolvido por profissionais qualificados. O
momento mais difícil para todos é o primeiro dia na rua, e os recursos do
tratamento ambulatorial devem ser novamente procurados, para a continuidade do
processo.
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