sexta-feira, 15 de março de 2013

Dependência química: Tratamento involuntário.


Quando todos os recursos para levar ao tratamento voluntário foram esgotados e o dependente continua na ativa, ou seja, usando drogas de maneira intensa, é necessária uma medida polêmica, a única capaz de dar conta do recado: a internação involuntária, contra a vontade.
Nesse estado, o uso se mantem, não mais pelo prazer da droga, mas para cessar as sensações ruins que a ausência dela provoca. O estado de abstinência fisiológico, provocado pela ausência da droga é um dos fatores mais importantes da manutenção do uso, provoca sofrimento psicológico, e também pode causar danos físicos e até morte com paradas cárdio-respiratórias, infarto, AVC, convulsões,  que requerem atenção por si só. O dependente em uma fase aguda de consumo fica também privado de auto-cuidados, condições de sono higiene e alimentação adequados, ficando susceptível a doenças físicas e mentais.  Nessa situação, a dependência coloca em risco a vida do paciente, podendo também colocar a de terceiros, sendo esse fato, indicação para que essa medida seja tomada.
É uma decisão muito difícil, pois priva a pessoa de seu direito mais primordial, que é a liberdade de escolha. Na verdade essa liberdade já foi trocada pelo uso de drogas, que escraviza. Deve ser indicada por um médico, e apoiada pela família, sua intenção é proteger a vida, tirar o dependente desse estado, deixa-lo em abstinência, e assim ele volta a ter acesso aos recursos que permitem a avaliação de seu estado e aceitação do tratamento.  Esse é o objetivo.  É prevista em lei, (Lei 10.216/2001) e só deveria ser empregada como último recurso.  O responsável pela instituição que acolhe o dependente deve comunicar o Ministério Público Estadual no prazo de 72 horas.
Como no caso da internação voluntária, os centros de tratamento que aceitam pacientes nessas condições tem que cumprir requisitos legais e técnicos, que são inscrição no CRM (Conselho Regional de Medicina) com médico generalista ou recursos para conduzir o paciente, em caso de necessidade a um hospital, médico psiquiatra, quadro de enfermagem em tempo integral, com enfermeiro com formação universitária e auxiliares de enfermagem, equipe de psicólogos presentes diariamente além de equipe de terapeutas e conselheiros, todos com especialização em dependência química. Essa é uma estrutura dispendiosa, e nem todas as instituições que aceitam esse tipo de tratamento a possuem. Essa situação é ilegal!
A internação involuntária tem autorização para um prazo máximo de 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30, por autorização do Ministério Público Estadual.  Ela não é um fim em si, é apenas uma etapa para trazer o dependente a um estado de consciência em que seja possível uma abordagem adequada para trabalhar a conscientização da necessidade de adesão ao tratamento. Sem a desintoxicação, não é possível esse tipo de trabalho, pois a abstinência é uma força incontrolável, que coloca abaixo qualquer intenção de buscar ajuda.  A parte mais importante do tratamento é feita pelo próprio dependente, e isso só ocorre depois da aceitação de seu estado, de sua doença, e da clareza de que a sobriedade é a única forma de reaver sua vida.
A dependência é doença progressiva, o que significa que a tendência é de piorar cada vez mais. É potencialmente fatal, pelas consequências do uso ao longo do tempo. É crônica, o que significa que não tem cura e com isso entendemos que não existe possibilidade de um dependente manter um uso recreativo, apenas isso: um dependente nunca conseguirá controlar a quantidade e frequência do uso de drogas. Tudo mais pode ser mudado em sua vida.
As famílias receiam buscar esse tipo de recurso, temendo que possa gerar uma crise e piorar o estado das coisas. A experiência mostra que quando o dependente é acolhido de forma adequada, em um ambiente livre de julgamento, por profissionais com características técnicas e pessoais adequadas para esse tipo de missão, dificilmente escolhe voltar para a vida anterior, pois ela gera alto grau de sofrimento e a possibilidade de uma vida nova é altamente motivadora.
O segredo para isso é a escolha criteriosa do centro de tratamento e o melhor critério é a indicação pelo profissional de saúde mental que cuida do dependente, por famílias que tiveram seus membros internados e também pelos convênios médicos, para quem os tem, pois só são cadastrados centros de tratamento que cumprem todas as normas estabelecidas pela lei.
Devemos ter em mente que para a dependência, assim como para qualquer outra doença, a internação é parte do tratamento, e NUNCA deve ser imposta como castigo!  E também que a conclusão do tratamento na clinica não é em absoluto, a conclusão do tratamento.  A fase mais difícil é o momento seguinte ao da alta, pois não há mais um ambiente protegido e nem toda uma equipe, 24 horas à postos para intervir. O tratamento deve continuar para tratar das dificuldades na nova fase da vida, a de ressocialização.