terça-feira, 13 de março de 2012

A gente se acostuma

Ontem precisei ir da Vila Mariana, ao Alto de Pinheiros, em um calor abafante, dirigindo, os motoboys passando feito loucos atraves dos carros, sem respeito nenhum pela própria vida,  como isso tem sido raro, enquanto ia, pensava na minha vida atual, morando em uma cidade de praia, e na anterior, aqui em São Paulo,e vejo como essa cidade nos faz seres mais secos, mais ríspidos, mais distantes. Como minha vida ganhou em qualidade, principalmente de saúde mental. Como curtir de verdade a natureza, viver longe desse estresse de toda ordem  me faz mais humana, mais sensível, mais saudável. 
Lembrei-me desse texto.

Eu sei, mas não devia                                 Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

sexta-feira, 9 de março de 2012

TDAH, continuação


Essas orientações também funcionam adaptadas para a vida familiar. 
  • Estabelecer um sistema de créditos, e débitos para todas as crianças, para os comportamentos adequados e inadequados , que consista em algo visível, concreto, como marcar estrelas em um quadro visível a todos. Deixar que cada um coloque no quadro seus “pontos”.
  • Fazer um registro das vezes que as crianças tem comportamentos  inadequados, construir um gráfico durante uma semana, determinando como meta na semana seguinte, que esse comportamento diminua de freqüência. Faça uma proposta de diminuição gradativa.
  • Deixar claro para todos,o que é esperado e o que não é desejável, procurando não manter normas muito rígidas. Deixe a criança participar do estabelecimento delas, se possível. 
  • Proporcionar com uma alta freqüência, reforços positivos, contingentes a condutas adequadas.
  • Dar oportunidades para essas crianças se moverem, fazendo coisas que estejam ao seu alcance, em lugares fora de sala de aula.
  • Não dar atenção, na medida do possível, quando a criança se comportar de modo inadequado, procurando mesmo colocá-la em “time out”, ou seja em algum lugar onde não haja pessoas, tirando o reforço social.
  • Procurar colocar essas crianças junto com outras mais tranquilas.
  • Fazer com que elas mesmas registrem suas condutas adequadas.
  • Usar a brincadeira  de papéis para modelar comportamentos adequados: mostrar a ela como deve comportar-se e em seguida deixá-la praticar, assumindo tanto o papel de aluno como o de professor.
  • Procurar ensinar acriança a sair das situações de estresse, deixando o ambiente, pedindo ajuda.

quarta-feira, 7 de março de 2012

TDAH, medidas educativas

Conviver com uma criança com TDAH pode ser mais simples do que se supõe, desde que sejam tomadas medidas adequadas. Na verdade, essas medidas poderiam ser tomadas com qualquer criança, mas são mais importantes com as que apresentam TDAH.
  • Considerar os pontos fortes da criança como base para o trabalho.
  • Orientar a atenção da criança para o que deve fazer, durante o trabalho, chamar sua atenção, dizendo qual é o próximo passo da atividade.Manter contato no olhar com a criança, e tocá-la como forma de fazer com que ela se contenha.
  • Dar instruções de forma parcelada, enumerando os passos da tarefa. Repetir as instruções enquanto a criança trabalha.
  • Procurar estruturar o ambiente de estudo, com todo o material que ela vai precisar.
  • Pedir ocasionalmente, que a criança responda apenas quando for solicitada.
  • Evitar estímulos visuais e auditivos, em ambientes de trabalho, ao contrário do que se pensa, não traz benefícios para essas crianças.
  • Ao  fazer perguntas à criança, lembrá-la, com freqüência,que ela deve pensar antes de responder,  para evitar erros.
  • Na medida do possível, evitar atividades com limite de tempo, que contribuem para acelerar a criança.
  • Tentar manter, na medida do possível, um distanciamento emocional diante dos comportamentos disruptivos da criança.
  • Manter o senso de humor, rir das situações ao invés de ficar irritado.
  • Não personalizar os problemas da criança. Entender que está tratando com alguém que tem mais dificuldade que as outras para manter a atenção e o controle de impulsos.
  • Praticar o perdão, não cultivar ressentimentos, procurar não manter continuidade das situações de crise.
  • Ser consistente na aplicação de normas.  Quando houver motivo para quebrar alguma norma estabelecida, falar o motivo da quebra, e que aquilo vale só para aquela situação  específica.
  • Usar a linguagem como ajuda no controle motor: intervenção autodiretiva: consiste em modelar um comportamento, ao mesmo tempo em que o comunica em voz alta  e que o realiza enquanto a criança o observa, Depois, a criança desenvolve a ação enquanto o adulto a expressa verbalmente, em seguida, a criança verbaliza enquanto realiza a ação, depois sussurra enquanto realiza a ação,e por fim só realiza a ação sob a supervisão do adulto.
  • Reforçar as crianças com comportamento adequado, esperado, dizendo o que esta sendo reforçado.